No Brasil, as pesquisas e as avaliações educacionais apontam para a precária formação de um público leitor e revelam as imensas dificuldades para o sucesso das ações envolvidas na melhoria desses resultados – embora o consenso de que nas sociedades contemporâneas a leitura seja imprescindível para a formação humana plena, para o desenvolvimento de competências intelectuais e profissionais, para o exercício da cidadania e para o desenvolvimento social e humano de nossa sociedade.

A leitura – um bem essencial

O domínio da leitura no mundo contemporâneo é essencial para o exercício da cidadania, para viver com autonomia, com plena consciência de si próprio e dos outros, para poder tomar decisões em face da complexidade do mundo atual. Determinante no desenvolvimento cognitivo, na formação cultural, no acesso à informação e ao conhecimento, na expressão e no juízo crítico, entre outros domínios, é uma competência básica que todos os indivíduos devem adquirir para realizar-se como pessoa, como cidadão e como profissional na sociedade contemporânea.

Organizações internacionais como a Unesco consideram-na um alicerce da sociedade do conhecimento – indispensável ao desenvolvimento sustentado – e têm formulado recomendações dirigidas aos governos para que sua promoção seja assumida como prioridade política.

Situação do Brasil

Os resultados globais desses estudos nacionais e internacionais realizados nas últimas duas décadas demonstram que a situação do Brasil é grave, revelando baixos níveis de letramento e habilidades leitoras, significativamente inferiores à média de outros países em desenvolvimento, inclusive da América Latina e Ásia, tanto na população adulta como entre crianças e jovens em idade escolar.

Uma das principais causas do elevado índice de alfabetismo funcional e das dificuldades generalizadas para a compreensão da informação escrita, segundo especialistas, localiza-se na crônica falta de contato com a leitura, sobretudo entre as populações mais pobres.

Segundo a 4ª. edição (2016) da pesquisa Retrato da Leitura no Brasil – pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro e aplicada pelo Ibope Inteligência – o brasileiro lê em média 2,8 livros por vontade própria em um ano. Revela também que 54% da população não é leitora (não leram nenhum livro em um período de três meses). São números preocupantes. Esses estudos confirmam que a exclusão social se agrava com a exclusão cultural, deixando à margem do efetivo letramento cerca de três quartos da população brasileira.

As consequências desse hiato não afetam somente os indicadores da educação no Brasil, mas infelizmente explicam o grave quadro social e macroeconômico do país e seu potencial de desenvolvimento.

A situação é, sem dúvida, preocupante. Apesar de projetos já lançados na última década e de ações isoladas, verifica-se que os resultados são insuficientes e que, para inverter a situação, torna-se urgente compreender as razões mais profundas do problema e lançar medidas adequadas e sistemáticas.

Faz-se urgente que toda a sociedade se envolva e se articule nessa mobilização, e em especial ofereça condições para que as escolas e as bibliotecas sejam preparadas para intervir na promoção da leitura, desenvolvendo atividades destinadas a cultivar o interesse pelo livro e o prazer de ler.

Todos os esforços devem ser orientados para a superação do hiato cultural e o caminho que se vislumbra é o de contribuir para melhorar a competência leitora dos brasileiros, por meio do estímulo à leitura, da produção de textos e do acesso aos livros. Faz-se necessário que se resgate o valor do livro e da leitura no imaginário popular.

O objetivo principal é, portanto, o de propiciar o acesso à leitura e ao livro a toda a sociedade, com base no consenso de que competência leitora é recurso indispensável na sociedade contemporânea para o desenvolvimento pessoal e a inclusão social. Somente dominando essa habilidade será possível exercer de forma integral sua cidadania, sua criatividade, conhecer os valores e modos de pensar de outras pessoas e culturas, além de ter acesso ao conhecimento, à herança cultural da humanidade, conseguir uma posição digna no mercado de trabalho, na sociedade da informação e do conhecimento. Isso é condição para melhorar os indicadores da educação e de desenvolvimento humano do país.