Taxa de brasileiros que não têm hábito de ler supera a dos que têm; governos precisam facilitar e estimular a leitura
30.nov.2024 às 22h00
Menos brasileiros leem livros hoje, seja em suporte digital ou impresso, do que há cinco anos. É o que revela a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, o mais amplo mapeamento sobre essa atividade no país, realizado desde 2007.
Pela primeira vez na série histórica, a taxa de não leitores superou a de leitores: 53% contra 47%. Em 2019, a parcela dos que costumam ler era de 52%.
Isso mesmo com o amplo critério para definir hábito de leitura. Quem leu parte de um livro nos últimos três meses, como um trecho da Bíblia, já entra na conta.
A queda absoluta entre as pessoas que afirmam ter o costume de ler, em um país no qual elas historicamente nunca vicejaram, impressiona: o Brasil perdeu mais de 11 milhões de leitores nos últimos nove anos.
Trata-se de uma crise que atinge quase todas as faixas etárias. No entanto ela é particularmente crítica na de 5 a 10 anos, período que compreende uma fase essencial de alfabetização.
A redução nesse estrato foi de nove pontos percentuais nos últimos cinco anos. O dado é temerário porque indica que essas crianças deixaram de ler livros nas escolas, já que obras didáticas e paradidáticas também são contabilizadas na pesquisa.
O índice reflete descaso de governos nas três esferas. Como a Folha revelou em setembro, obras literárias que deveriam ter sido compradas para abastecer escolas em 2022, na gestão de Jair Bolsonaro (PL), ainda não haviam sido nem contratadas pelo Ministério da Educação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em seus quase dois anos de mandato.
A prefeitura de Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo, também atrasou seu programa de distribuição de exemplares na cidade mais populosa e rica do país.
Enquanto o fomento ao livro engatinha, outras práticas galopam para dominar as atenções do potencial leitorado.
Entre as atividades com que os entrevistados declararam ocupar seu tempo livre, o uso da internet saltou de 47% para 78% entre 2015 e 2024. No mesmo período, o uso de WhatsApp ou Telegram subiu de 43% para 71%, e o de redes sociais, de 35% para 49%.
O hábito da leitura não é panaceia, mas são consensuais seus benefícios para a cognição, a criatividade e a expressão de ideias.
Num país que precisa desenvolver sua economia, incrementar índices educacionais e cultivar um nível saudável de debate público, governos têm o dever de facilitar o acesso a livros e incentivar a leitura, principalmente na infância e adolescência.