Gilda Carvalho
Instituto Interdisciplinar de Leitura da PUC-Rio
Os quadros desalentadores sobre os sistemas educacional e cultural brasileiros são apresentados cotidianamente em imagens e indicadores que traduzem o desastre da evasão escolar, do desemprego, da desigualdade social e da violência. Contudo, quase que silenciosamente, há resistência e resiliência. Pelo Brasil afora encontram-se iniciativas que buscam retomar os caminhos perdidos pela falta ou ineficiência de políticas públicas que garantam educação de qualidade e sustentabilidade cultural. É um Brasil que está lendo. Em escolas, bibliotecas, associações de moradores, praças, igrejas e outros tantos espaços formam-se leitores através de projetos mantidos pela insistência daqueles que acreditam que a leitura está na base da transformação que esse país precisa.
Promovida pelo Instituto Itaú Cultural, O Brasil que Lê vem ao encontro desse país nem tanto assim desconhecido. A pesquisa reúne o Instituto Interdisciplinar de Leitura da PUC-Rio e a Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio e a JCastilho Consultoria no levantamento e análise de projetos de promoção de leitura em todos os municípios brasileiros. Lançada em novembro de 2020, o convite à participação dos projetos, em atuação ou não, esteve aberto nos 5 meses seguintes, durante os quais o esforço de divulgação manteve-se ativo.
Os projetos participantes preencheram um questionário com perguntas que incluíram dados sobre sua origem, articulações, espaços de atuação, públicos, atividades e resultados. Neste momento, uma equipe multidisciplinar está dedicada à análise de uma base de dados que, embora extensa e complexa, propicia e pretende aprofundar o diálogo com outras tantas pesquisas que trazem à luz a realidade da promoção da leitura no Brasil.
O mapeamento apresentará um panorama de forma descritiva e analítica, considerando diferentes categorias que respeitam estratos regionais e explicam os fenômenos destacados por meio de referenciais teóricos nesse campo, incluindo metodologias de mediação da leitura, análise de iniciativas de leitura no Brasil, perfil dos mediadores e aplicação das novas tecnologias nestes projetos. Essa abordagem permitirá uma análise do comportamento leitor a partir de iniciativas proativas, isto é, projetos de leitura cujos responsáveis indicam uma visão de capilaridade, visibilidade e sustentabilidade. A exploração das categorias de análise poderá, ainda, possibilitar a verificação de aspectos regionais por meio de dados específicos para os estados brasileiros, inclusive com indicativos de fomento e ampliação das iniciativas estudadas.
Os diferentes nichos de informação apurados pelo levantamento serão fundamentais para a compreensão do que é feito para promover a leitura no país e podem apontar possibilidades e demandas que orientem futuras ações e investimentos. Resultados iniciais permitiram o desdobramento da pesquisa em uma ação de suporte à gestão de projetos através do Seminário Arte, Técnica e Paixão: gestão de projetos de formação de leitores no Brasil contemporâneo, que durante 4 dias propiciou aos participantes reflexão teórica e prática. O curso, em formato de webinares, foi oferecido a todos os projetos inscritos na pesquisa e contou com a participação de especialistas e empreendedores.
Os resultados finais da pesquisa serão publicados e divulgados conjuntamente pelas instituições parcerias a partir de novembro deste ano. Espera-se não somente a apresentação de um mapa de informações estáticas, mas fazer visíveis o esforço e a esperança de todos os que se dedicam à promoção da leitura como mola propulsora de desenvolvimento social.
Há muito a ser feito ainda. Os efeitos da pandemia do coronavirus, aliados a uma situação político-social desastrosa, reverberam essa certeza. Somente de mãos dadas, compreendendo uma demanda de ordem colaborativa que conclama a uma atuação em rede, com parcerias criativas, poderá ser dada a visibilidade merecida ao trabalho de tantas pessoas. Cabe, portanto, às instituições que lideram iniciativas como O Brasil que Lê e outras na esfera da pesquisa nesse campo social, propor-se a essa primeira articulação. Juntos poderemos mais.