O Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural convidaram João Luís Ceccantini, professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), para analisar quem são e o que leem os leitores brasileiros de literatura, a partir de dados da última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. O bate-papo fez parte do ciclo de debates sobre os resultados da pesquisa.
No universo geral dos sujeitos pesquisados, em que 52% dos respondentes são inseridos na categoria leitor, 28% declararam ser leitores de livros de literatura e 30% informaram que são leitores de literatura apenas em outros meios. “Tomada como base a população brasileira em 2019 com 5 anos ou mais – 193 milhões de pessoas –, é, portanto, substantivo o número de leitores que se dedicam à leitura da literatura”, afirma Ceccantini.
O professor observou também que há mais pessoas jovens, com 5 a 29 anos, entre leitores de livros de literatura do que entre outros tipos de leitores e que há um contínuo decréscimo dos leitores de livros de literatura que prossegue até a faixa dos 70 anos ou mais. “Trata-se de uma questão que merece ser estudada com o devido cuidado, investigando-se sobretudo se não estaria atrelada a práticas escolares cristalizadas e superadas na abordagem do fenômeno literário, incapazes de formar leitores permanentes”, diz. “Na comparação com as pesquisas anteriores, fica nítido em diversas frentes, que a influência da escola no campo da leitura tem diminuído, e especialmente no que diz respeito ao livro de literatura, ao longo de todo o período de escolarização dos indivíduos e de maneira ainda mais acentuada no Ensino Superior”.
De acordo com o professor da Unesp, chama atenção na pesquisa o fato de os leitores de livros compartilharem significativamente mais impressões de leitura sobre uma dada obra lida do que aqueles que leem literatura apenas em outros meios. “Também são os leitores de literatura os que mais realizam o empréstimo de livros junto a bibliotecas, assim como junto à família ou aos amigos. E, talvez por isso, comprem menos livros do que os demais leitores, como se depreende das informações colhidas”, comenta. “Curiosamente, também são os leitores de literatura os que mais já leram um livro digital (53%), modalidade que constitui um ilustre desconhecido para grande parte de todos os sujeitos pesquisados: 56% dos respondentes dizem nunca ter ouvido falar desse tipo de livro”.
Ao analisar os dados a respeito dos novos meios tecnológicos para leitura, cada vez mais disponíveis e populares, o professor aponta que eles têm facilitado o acesso à literatura como nunca antes se viu. “E, como se sabe, isso se dá hoje cada vez com maior rapidez, crescente diversidade e menor custo, sendo disponibilizados aos leitores obras clássicas da literatura mundial e nacional e mesmo obras de autores iniciantes/alternativos ou autores contemporâneos já consagrados, que buscam conquistar novos nichos de leitores”, diz Ceccantini. “Assim, passa a haver, cada vez mais, uma ampla oferta de textos de natureza diversificada, disponibilizados em múltiplas plataformas que impulsionam a ampliação do universo de leitores”.
Para finalizar, o professor apontou que, ao longo dos muitos tópicos que dão corpo à pesquisa, fica claro que o papel desempenhado pela instituição escolar no Brasil para a formação de leitores tem deixado muito a desejar. “Perde-se, assim, a oportunidade de, ao longo do período da escolaridade, não ser explorado o privilegiado potencial que os livros de literatura têm de fazer diferença, auxiliando a formar leitores mais autônomos, dinâmicos e interativos, entre tantos outros atributos sugeridos pela pesquisa, em maior ou menor grau”, conclui.