Por Maria das Graças Monteiro Castro
Parte-se do pressuposto que todo trabalho pedagógico de qualidade a ser oferecido aos estudantes deve proporcionar o acesso aos bens culturais produzidos socialmente e garantir as condições concretas para a construção das estruturas que os capacitem a um processo de educação permanente. Para que isso ocorra entendemos que a biblioteca da escola é o elemento fundamental para que o indivíduo construa o primeiro elo com o capital do conhecimento acumulado ao longo da história, cujo registro tenha-se dado sob a forma do texto escrito.
É na escola que a maioria das crianças brasileiras têm contato com a formalização do texto escrito, por meio do livro didático e a literatura. Cabe à biblioteca garantir e ampliar esse acesso por meio de outros suportes informacionais necessários à formação leitora. É necessário que se valorizem as escolas e suas bibliotecas como espaços de leitura e formação contínua de uma comunidade leitora, mediante a observação de dois aspectos: o fluxo real de informação, ou seja, aquele que alimenta as ações; e as demandas da biblioteca, bem como as possibilidades pedagógicas que devem ser definidas por intermédio da construção de um planejamento conjunto entre a biblioteca e a escola.
As bibliotecas escolares devem ser constituídas considerando o segmento educacional em que estão inseridas: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos.
Assim, para que a biblioteca da escola passe a promover processos de aprendizagem valendo-se de seus acervos, muito há a ser revisto, uma vez que as condições concretas para que essa premissa se cumpra não estão postas.
A leitura e a análise inicial da 5ª. Edição da Retratos da Leitura no Brasil, pesquisa realizada em todo o Brasil e coordenada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, apontam-nos aspectos e indicadores que sustentam a percepção de que a biblioteca tem atuado pouco, para além das atividades obrigatórias do sistema de ensino.
A pesquisa Retratos da Leitura definiu como eixo estratégico os estudos sobre o comportamento leitor do brasileiro, especificamente em relação à literatura. E uma das categorias pesquisadas foi sobre o acesso aos livros, o consumo e a percepção e uso das bibliotecas, sejam elas públicas, escolares ou universitárias, como equipamento social que promove a disseminação desse suporte.
A pesquisa buscou traçar o comportamento do leitor mediante as seguintes categorias de análise: intensidade, forma, limitações, motivações, representações e as condições de leitura e acesso ao livro – impresso e digital – pela população brasileira com 5 anos ou mais, alfabetizada ou não.
A pesquisa considerou como leitor aquele sujeito que leu um livro inteiro ou em partes nos últimos três meses, bem como dois blocos de perguntas que abordaram a percepção que o entrevistado tem de biblioteca e do uso que faz desse equipamento social. Foram levantadas as seguintes questões: o que a biblioteca representa; a frequência e o tipo de biblioteca que frequenta; as motivações que o levam à biblioteca; o perfil do usuário: escolaridade, idade e motivações; a avaliação dos serviços da biblioteca que frequentam: atendimento, existência dos livros procurados e por que procuram esses livros.
Para que possamos avaliar os resultados da pesquisa, retomo à pesquisa realizada em 2019 – Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares –, que buscou identificar o impacto das bibliotecas na aprendizagem dos alunos. E os resultados que se aproximam são:
- Existe uma relação direta entre escolaridade e uso da biblioteca;
- Quanto maior a escolaridade e renda, maior é a relação com a leitura;
- A participação do professor é determinante na busca e leitura de um livro;
- A frequência e a motivação para usar a biblioteca são determinadas pelas necessidades escolares: tarefas; trabalhos e indicações de livros literários;
- A predominância do usuário da biblioteca é de estudantes de todos os segmentos de ensino: Fundamental I e II, Ensino Médio e Ensino Superior;
- O índice de pessoas que não frequentam a biblioteca é muito alto, em torno de 68%, determinado pela falta de tempo, gosto e proximidade;
- A biblioteca escolar aparece como a terceira possibilidade de acesso ao livro e, quanto maior a estrutura, melhor a relação do usuário com a biblioteca;
- Quanto ao acervo, os entrevistados manifestaram que gostariam de ler livros mais novos, atuais e mais interessantes; no entanto, como a biblioteca não era foco do estudo, não conseguimos dimensionar a natureza do acervo que possuem.
- Mesmo com as diferenças regionais, esses resultados pouco se alteram.
Para que possamos considerar a biblioteca da escola como um espaço vivo e em construção permanente, formando leitores e cidadãos críticos e autônomos, mediante a promoção de encontros, conhecimento, investigação e leituras sustentados pela natureza do nível de ensino e das suas propostas pedagógicas, teremos de passar a considerar:
- A necessidade de integrar biblioteca às ações pedagógicas do processo de educação formal;
- A orientação na formação do acervo, no planejamento de suas ações e serviços para que atenda às especificidades do contexto pedagógico em que está inserida;
- A compreensão das necessidades de cada segmento de ensino, para que possa atuar na formação do leitor de diferentes estruturas textuais. Nesse sentido, as pesquisas Retratos da Leitura no Brasil e Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares reúnem elementos e indicadores fundamentais, que precisam ser estudados, para que possamos constituir um sistema de bibliotecas escolares concebido considerando as necessidades específicas dos diferentes segmentos da educação formal. As bibliotecas da escola precisam ser concebidas como um equipamento social indispensável e responsável pela qualidade formativa do cidadão brasileiro, nos processos formais de ensino.