No dia 13 de outubro, o Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural realizaram o quarto encontro do “Ciclo de Debates: o que nos diz a 5ª edição da Retratos da Leitura no Brasil”. O evento contou com as participações de Zoara Failla, coordenadora da Pesquisa e de Fabio Malini, doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ e professor da UFES, onde coordena o Labic (estudo de megadados nas redes sociais). Dolores Prades, publisher da Emília e Diretora do Instituto Emília e do Laboratório Emília de Formação, completou a mesa. A mediação do encontro foi Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural.
Leitura digital: o que diz a Retratos
O encontro começou com uma apresentação de Zoara, na qual ela comentou que a mais recente edição da pesquisa Retratos da Leitura ampliou o escopo de investigação para conhecer novos hábitos e a leitura na internet e como essas leituras impactam nas motivações, nas influências, nas preferências, e, se impactam na formação de leitores de livros e no despertar do interesse pela literatura.
Em sua apresentação, Zoara destacou os dados referentes à leitura de livros digitais. “O primeiro deles é que, embora a internet e as redes sociais estejam mostrando sua força nos hábitos de leitura, a preferência de 67% dos leitores que já leram livros digitais é pelo papel impresso. E apenas 17% declaram preferir o livro digital”, diz.
A pesquisa Retratos da Leitura aponta para o aumento no uso do celular para a leitura de livros digitais e a redução dos demais dispositivos para leitura, principalmente o computador. Esses movimentos acompanham a tendência de utilização do telefone celular para acessar a internet entre os usuários de internet brasileiros a partir de10 anos, segundo os dados da pesquisa TIC Domicílios 2019. Os livros digitais já são bem conhecidos pelos brasileiros (44% ouviram falar e, desses, 37% já leram nesse formato), mas a maioria dos que já leram nesse formato baixa os livros oferecidos gratuitamente pela internet (88%).
O celular é o dispositivo mais utilizado para ler os conteúdos (73%); o computador é usado por cerca de 31% dos leitores e menos de 10% leram no tablet, iPad ou em leitores digitais, como Kindle, Kobo e Lev. Quanto ao audiolivro, cerca de 20% dos brasileiros já ouviram livros dessa forma. O consumo desse formato de livro foi ainda mais frequente entre os indivíduos com ensino superior (40%), pertencentes à classe B (31%) e entre os leitores de literatura (33%).
Impactos da leitura de livros em plataformas digitais
Logo em seguida, esses e outros dados foram analisados pelo professor Fabio Malini, que propôs uma reflexão sobre os impactos da leitura de livros em plataformas digitais no Brasil. A partir dos dados da Retratos da Leitura, Malini identificou nove tendências sobre o comportamento leitor brasileiro em outros suportes que não o livro físico. Para conhecer todas elas em detalhes, clique aqui.
Dentre as tendências apontadas pelo professor, destaca-se o fato de os assuntos dos momentos na internet tenderão ser os temas que motivam a compra de livros. “O impacto mais intenso do digitalismo que a pesquisa revela não está associada ao acento individual dos influencers, mas incide sobre dois itens bem relevantes na influência da escolha de um livro entre leitores: tema ou assunto (33%) e dicas de outras pessoas (12%), diz.
Outro dado interessante é que na internet, ler notícias é um hábito mais presente na vida adulta. “Já ler livros em ambientes da internet é um hábito mais infanto-juvenil (13% entre quem tem de 11 a 17 anos), mais do que o dobro em relação a outras faixas etárias, como por exemplo 18 a 24 anos (6%) e 50 a 69 anos (4%)”.
A última tendência apontada por Malini diz respeito ao suporte preferencial da leitura digital, que é o telefone celular e à liderança do conto e da poesia em suportes digitais, talvez por sua brevidade.
Leitores mutantes
Dolores Prates convidou os presentes a pensarem em como os dados que foram levantados por Malini impactam no perfil dos leitores brasileiros e em como será que essas novas práticas podem incentivar a leitura literária.
Para caracterizar os leitores mutantes, Dolores se baseou em José Miguel Tomasena, que tem trabalhado muito com esse conceito. “Falar em leitores mutantes significa dizer que estamos num mundo em que as relações são pautadas pela conectividade, no qual a internet e as redes permitem a busca e a transmissão rápida de informações”, diz.
Dolores chamou atenção para o fato de a Retratos apontar para o hibridismo, ou seja, uma tendência de convivência entre suportes. Ela também comentou sobre a mudança da tomada de decisão dos leitores para comprar um livro e como esse novo cenário gera novos desafios para a cadeia produtiva do livro. “De um lado, o mundo editorial vai se mantendo praticamente intacto em termos do fazer editorial. De outro, dos leitores, cuja lógica mudou. A confiança vai muito mais pela indicação do amigo seguidor do que o marketing das editoras”, afirma.