Bibliotecas escolares – livros nas estantes ou leituras que conquistam leitores e promovem aprendizagem? O Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural convidaram Bel Santos Mayer, gestora da rede Literasampa, para comentar como as bibliotecas comunitárias contribuem para a formação de leitores, a partir de dados da última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. O bate-papo fez parte do ciclo de debates sobre os resultados da pesquisa.
Segundo Retratos da Leitura, cerca de 34 milhões de pessoas frequentam bibliotecas no País, sendo a maioria pertencente à classe C (49%), seguida da B, com 26% e D/E, com 21%. Os estudantes são 60% dos frequentadores. A principal motivação para ir à biblioteca é ler livros para pesquisar ou estudar(51%) e, em seguida, ler por prazer (33%).
De modo geral, os frequentadores consideram que as bibliotecas têm bom atendimento (96%), apesar de apenas 57% declararem que encontram todos os livros que procuram. Entre aqueles que não frequentam bibliotecas, 34% alegam falta de tempo e 20% dizem não gostar de ler. Vale destacar que 13% deles mencionaram não haver biblioteca próxima para frequentar.
Para convidar Bel para o debate, Zoara Failla, coordenadora da Retratos da Leitura e mediadora do encontro, questionou a convidada sobre a importância das redes e das bibliotecas comunitárias nesses tempos difíceis que estamos vivendo.
Bel, em sua fala, enalteceu o fato de a pesquisa agora também contemplar os frequentadores de bibliotecas. “Quando vejo que 14% dos leitores frequentam bibliotecas comunitárias, eu comemoro. Afinal, o que são as bibliotecas comunitárias? Elas nascem da iniciativa de indivíduos, de coletivos que negligenciados, abandonados, de uma cultura, que decidem, nós vamos ler. Nós vamos nos juntar e continuar lendo”, explica.
Durante a palestra, Bel defendeu que uma biblioteca precisa formar para o acesso a outras bibliotecas. “Quem teve livro em casa desde a infância nunca imaginou que teria dentro de casa tudo o que gostaria de ler. A família prepara para o acesso à biblioteca da escola, à uma biblioteca pública. Nós nas bibliotecas comunitárias trabalhamos até em um caminho contrário, que é o de os leitores terem as bibliotecas pessoais, as bibliotecas da família”, diz.
Bel também indagou sobre como garantir a bibliodiversidade nos diversos tipos de bibliotecas. “É essa diversidade que vai garantir que cada pessoa encontre um livro para chamar de seu, que dialogue com você. Como é que um livro consegue puxar o outro? Como é que a gente pode fazer isso? A pesquisa aponta que as mães são as iniciadoras, depois as professoras. E nós, nas bibliotecas, recebemos isso como uma convocação na bibliotecas comunitárias. Cada um de nós é convocado a ser iniciador dos leitores no universo do livro e da leitura”, defende.
Em seguida, a convidada se propôs a desmontar alguns equívocos sobre a formação de leitores, que podem explicar a queda apontada pela Retratos no número de pessoas que leem a partir dos 11 anos de idade. “O primeiro é achar que mediação de leitura só se faz na infância. E aí a gente vai ver esse aumento de leitores entre 5 e 10 anos, então, a gente está tendo cada vez mais professores mediadores de leitura e que incentivam às famílias a serem leitoras. Mas aí depois vem esse equívoco, que é achar que depois que a criança já sabe ler, não é mais preciso ninguém mais ler pra ela. Precisamos acabar com esse equívoco e ter mais leituras compartilhadas”. diz.
Outro equívoco apontado por Bel é circunscrever a leitura a alguns períodos: para fazer a prova ou porque o professor pediu, por exemplo. “A gente pecisa coloca a leitura em nosso cotidiano, uma coisa importante é o gesto da leitura, fotografar-se lendo, conversar sobre leitura. Literatura para ler, ver e contar, fofocar mesmo sobre os livros”, diz.
Ao final, Bel propôs uma reflexão sobre o percurso de pensar a literatura, da maternidade ao cemitério, mantendo a paixão pelos livros durante todo o ciclo da vida. Para ela, alguns caminhos possíveis seriam a articulação de bibliotecas com a cadeia do livro, a discussão de políticas públicas de acervo das bibliotecas e das escolas, de modo a valorizar os autores locais, levar literatura pras ruas, pro espaço íntimos das famílias e a produção de jornais e podcasts literários.