O que revela a série histórica da Retratos da Leitura sobre as políticas públicas do livro e leitura no brasil? O Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural convidaram José Castilho Marques Neto para tentar explicar as causas para a redução de 4,6 milhões de leitores no Brasil
A quinta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro e pelo Itaú Cultural, aponta uma redução de 4,6 milhões no número de leitores no Brasil entre os anos de 2016 e 2019. Em contrapartida, na edição anterior, que abrangeu os anos de 2011 a 2015, o país havia ganhado 16,6 milhões de leitores.
E o que as políticas públicas tem a ver com esse número? Para explicar essas e outras questões, o IPL convidou José Castilho Marques Neto para o primeiro encontro do ciclo de debates sobre a Retratos de Leitura no Brasil. Durante sua fala, Castilho questionou o tipo de política que está sendo realizada para que o Brasil tenha resultados como esses. “A verdade é que de 2006 a 2016 nós tivemos uma política pública que se identificou com todos os alicerces do Plano Nacional do Livro e Leitura”, afirma Castilho. “Estou falando da democratização do acesso ao livro e a leitura, com ênfase nas bibliotecas públicas, nas bibliotecas comunitárias, na criação e reforço da ideia de mediação da leitura”.
De acordo com Castilho, por dez anos, o Brasil construiu estratégias para tornar o direito à leitura uma política de Estado suprapartidária, interrompendo ciclos históricos, no quais a existência de bons programas que mudavam junto com os governos. “A questão que se coloca hoje é que estamos em um momento histórico, nos últimos 4 anos, de contenção dos avanços sociais que havíamos conseguido”, diz Castilho. “Nós temos uma nova política pública negacionista e fica muito claro que sem política pública de leitura, nós vamos ter de fato um retrocesso civilizatório”.
Para comprovar sua tese, Castilho listou uma série de medidas tomadas entre os anos de 2016 e 2020 que impactaram negativamente no número de leitores no Brasil, como extinção do Ministério da Cultura, Diretoria do Livro e Leitura rebaixada como Departamento e a não execução de programas relevantes de fomento à leitura. “Do lado da Educação, nós temos o MEC numa paralisia na área educacional, não há iniciativas de incentivo à leitura e a primeira que surge é de fato uma experiência que está sendo criticada por quem tem estatura para criticar, ou seja, um programa absolutamente avesso ao Plano de Livro e Leitura”, diz Castilho.
Ao terminar sua apresentação, o convidado alertou aos presentes que o Brasil deve enfrentar um futuro com um decréscimo maior ainda no número de leitores, caso não sejam feitas mudanças. “Os Retratos da Leitura são retratos na nossa exclusão, são retratos dos brasileiros, do seu direito à leitura e à cidadania plena, ou seja, nós somos também na leitura um país dividido entre aqueles que conseguiram conquistar o seu direito à leitura e aqueles que não conseguiram. E infelizmente eles são maioria”, diz Castilho. “Enfrentar isso é um desafio e uma oportunidade e somos nós mesmos que temos que decidir enquanto nação o que queremos para hoje e para o futuro do país”.