Por Ângelo Xavier
O Brasil ocupa lugares que nos envergonham em avaliações internacionais sobre educação, como o Pisa (O Brasil, na última edição do PISA – OCDE, aparece em 57º num ranking com 77 países para a categoria proficiência em leitura, com estudantes brasileiros com 15 anos de idade ) .
Sabemos que a leitura é ferramenta indispensável para a qualidade da educação. Sabemos que a melhoria dos indicadores de educação e de leitura é responsabilidade de toda a sociedade. Mas, sem dúvida, quem deve capitanear essa missão são os gestores públicos. É fundamental, portanto, a institucionalização de políticas públicas capazes de garantir acesso; propiciar a alfabetização funcional e a formação leitora, para que nossas crianças e jovens, além de adquirem a capacidade de ler e de compreender aquilo que leem e escutam, desenvolvam o hábito e o gosto pela leitura. Hoje, como nos mostrou a 5ª edição da Retratos da Leitura no Brasil, quase metade da nossa população não lê porque não entende o que lê ou porque não se interessa pela leitura.
Esse mapeamento sobre os hábitos de leitura dos brasileiros e sobre os indicadores e as dificuldades para ler e para o acesso ao livro, é a contribuição do Instituto Pró-Livro, que assumiu a realização da pesquisa Retratos da Leitura, desde 2007.
O Instituto Pró-Livro, foi criado e é mantido, desde 2006, pelas entidades do livro Abrelivros (Associação Brasileira dos Editores e Produtores de Conteúdo e Tecnologia Educacional), CBL (Câmara Brasileira do Livro) e SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), como uma braço de responsabilidade social da cadeia produtiva do livro, com a missão de promover ações para transformar o Brasil em um pais de mais leitores . O IPL acredita que nenhum país constrói cidadania, melhora seu IDH e forma profissionais mais qualificados sem educação de qualidade e sem leitura.
Com essa missão e essa crença, o Pró-Livro promove a pesquisa e ações voltadas ao fomento a leitura com a expectativa de conhecer e de melhorar os indicadores de leitura dos brasileiros.
Entre as ações do IPL, orientadas pela Retratos, estão a criação da Plataforma Pró-Livro e o Prêmio IPL – Retratos da Leitura. Esses projetos se complementam e se orientam pelo como objetivo mapear, valorizar e divulgar ações de fomento a leitura desenvolvidas em todo o país. Mas, as ações do IPL começaram em 2007. Muitas marcaram presença, como as instalações voltadas para crianças e adolescentes: Biblioteca Viva; O Livro é Uma Viagem e Deu a Louca nos Livros, nas Bienais de SP e Rio. Outra ação importante foi o Programa Mais livro e Mais Leitura nos estados e municípios, em parceria com o MINC
O IPL assumiu a pesquisa em sua segunda edição, em 2007, adotando metodologia de padrão internacional (Cerlalc/Unesco) para possibilitar a comparação com os resultados de outros países ibero-americanos. Desde então, a coleta de informações tem sido encomendada ao Ibope Inteligência. A construção da série histórica (2007, 2011, 2015 e 2019) é fundamental para a avaliação de programas e políticas públicas.
O acompanhamento do comportamento do leitor brasileiro, seus hábitos, estímulos e dificuldades são o principal foco da pesquisa. A Retratos é, na verdade, um amplo diagnóstico que serve de guia e fonte de inspiração para políticas públicas do livro e leitura, além de orientar as ações do IPL e projetos de leitura em todo o Brasil. Segundo nosso mapeamento, só a imprensa, de 2007 até 2019, mencionou a pesquisa cerca de 10 mil vezes, seja citando seus dados, falando de seus resultados ou para embasar suas pautas de leitura, o que, certamente, contribui para a construção de uma representação simbólica positiva sobre a importância da leitura .
Nesta 5ª. Edição, passamos a contar com a parceria do Itaú Cultural para a sua realização, o que viabilizou manter a série histórica e contribuiu para a expansão da amostra da pesquisa para possibilitar a leitura por capitais brasileiras e aprofundar o conhecimento sobre hábitos dos leitores de literatura.
Apesar de tantas iniciativas, ainda há muito a fazer. De sua primeira edição até agora, a Retratos da Leitura é um grande termômetro da situação brasileira nesse quesito. Nesta edição fica claro que o País ainda necessita melhorar muito seus indicadores educacionais. Entre altos e baixos – em 2020, por exemplo, perdemos uma base de mais de 4 milhões de leitores – a pesquisa confirma, acima de tudo, a necessidade imperativa de investimentos públicos e privados para a disseminação dos hábitos de leitura e inserção de uma parcela maior de cidadãos na vida social, cultural e econômica do país.
Da parte das entidades do livro aqui representadas, fica mantido o compromisso com a construção de um Brasil leitor, apto a ganhar espaço em um mundo cada vez mais ávido de conhecimento e produtividade. Esperamos que essa obra contribua para vencer esse desafio.
*Ângelo Xavier é presidente da Abrelivros e do Instituto Pró-Livro