Por Amauri Eugênio Jr. / Foto: Vans Atalaia
Entre os dias 4 e 8 de novembro, a região de São Miguel Paulista será o centro das mais variadas formas de saber e de expressão cultural produzidas em territórios periféricos. Com o tema “Identidade, territórios e expressão dos povos”, a edição de 2019 do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel mostrará toda a potência de artistas locais e de renome nacional, além de que a cultura tem, sim, espaço nas vidas de todos os cidadãos.
O tema da edição atual do festival é reflexo da estrutura social de São Miguel Paulista. A região é, assim como as demais periferias da capital paulista, um território plural, onde a comunidade nordestina tem presença marcante e coexiste com demais comunidades – indígena, negra, haitiana e boliviana, entre outras.
A programação deste ano dialoga com os motes dos anos anteriores. “O que a gente tenta fazer é amarrar a história e a presença da Fundação Tide Setubal, ao mostrar que existe marcação forte de identidade no território. E existe também uma pluralidade muito grande, que caracteriza uma marca específica de cada um dos territórios. E tentaremos celebrar isso em São Miguel”, pontua Márcio Black, coordenador de mobilização social da Fundação Tide Setubal.
Com parcerias das editoras Companhia das Letras e Todavia, Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, Fundação Educar DPaschoal e da Festa Literária das Periferias (FLUP), apoio cultural do SESC-SP, patrocínio da Rede e correalização da Fundação Tide Setubal e da Secretaria Especial da Cultura, do Governo Federal, a edição atual do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel conta diversas atrações distribuídas em 25 espaços e que mobilizarão escolas, centros culturais e demais instituições da comunidade de São Miguel Paulista e região.
Programação plural
A edição de 2019 do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel contará com atividades variadas, como rodas de conversas, saraus, mostras de filmes, apresentações teatrais e oficinas de grafite, literatura, desenho e percussão, por exemplo. Além disso, as escolas localizadas na região receberão projetos voltados ao incentivo à leitura e à produção de demais linguagens artísticas, assim como à explicação de conceitos sobre estruturas governamentais e organização política, das quais os alunos poderão participar de modo ativo.
A pluralidade da programação do festival é explicada pela diretriz adotada durante o desenvolvimento. Um braço do evento, que acontecerá entre os dias 4 e 7, foi construída em parceria com organizações, entidades e parceiros atuantes no território de São Miguel Paulista. Já o outro segmento, que acontecerá entre os dias 6 e 8, foi pautada pela diversidade em todos os aspectos, desde as características das atrações à promoção de diálogo entre convidados de perfis variados.
“A programação do festival dialoga com o lugar da Fundação Tide Setubal como promotora e construtora de pontes entre o Centro e periferia. A periferia é o nosso ponto de atual de atuação, mas entendemos ser necessário dialogar com o Centro, que precisa, por sua vez, olhar com mais atenção para a periferia – para isso acontecer, o diálogo é necessário. Procuramos promover [na programação] deste festival o máximo de diálogo possível entre essas duas realidades em São Paulo”, destaca Márcio Black.
Vale dizer que o cuidado com a curadoria na programação do festival tem relação direta com a ligação da Fundação Tide Setubal com projetos literários, que dialogam com sua missão – fomentar iniciativas que promovam justiça social – assim como com a presença da entidade em São Miguel Paulista. Ainda, o viés diversificado da edição atual do festival é também o reflexo de um movimento mais amplo que vem acontece na cidade, que pode ser lido como um movimento de resistência cultural. “Trata-se de movimentos muito fortes que, mesmo em um contexto em que a cultura perde recursos, eles continuam com muito força. Esse é um sinal de que [esses projetos] estão totalmente validados pelas comunidades nas quais estão inseridos. É um movimento de toda a comunidade no entorno dos coletivos, saraus que atuam nesses territórios”, ressalta o coordenador de mobilização social da Fundação Tide Setubal.
Festival no Galpão ZL
O Galpão ZL, núcleo de prática local da Fundação Tide Setubal no Jardim Lapena, que fica próximo à Estação São Miguel da Linha 12 – Safira da CPTM, receberá uma série de atividades que abrangem diversas modalidades de expressões culturais e artísticas voltadas a públicos de perfis e faixas etárias variados.
No dia 4 haverá as contações de história “Dikeledi e as Voltas que o Mundo Dá…” e “Dandara, a Guerreira Quilombola”, do Núcleo Histórias de Comadres, que acontecerão, respectivamente, às 10h e às 14h; o Sarau Pretas Peri, às 15h; e o Sarau Fecha com as Sistahs, da Coletiva FemiSistahs, às 19h.
Já no dia 5 haverá, às 10h, a roda de conversa “Definindo rumos: redes literárias e ISP”, que consistirá em reunião aberta com a Rede LEQT (Leitura e Escrita de Qualidade), GT temático do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) dedicado a letramento, sobre os rumos do investimento social privado em projetos de fomento à leitura; às 14h30, a oficina de HQ com a ilustradora e cartunista Luli Penna, cujos desenhos foram publicados em zines, revistas femininas, nos “Ilustrada” e “Ilustríssima”, da Folha de S.Paulo, e na “Revista Piauí”, e que e lançou em 2017 o livro “Sem Dó” pela Editora Todavia.
Ainda no dia 5 acontecerá, às 15h, a roda de Conversa “Definindo Rumos: festivais literários de São Paulo”, que será aberta para coletivos, grupos e organizações que promovem festivais literários em São Paulo; às 19h, o bate-Papo “Literatura periférica e letramento”, com Rodrigo Ciríaco e Iracema Nascimento; e às 20h, o show e roda de conversa sobre masculinidades, com o coletivo Logo Eu que não Fazia Love Song, que terá também apresentação musical.
O espaço receberá, no dia 6, a roda de Conversa “Literatura à flor da pele: Paulo Colina – planos de voo”, que acontecerá às 14h e na qual Oswaldo de Camargo e Marciano Ventura falarão, com mediação de Neide Almeida, sobre vidas e obras de escritoras(es) negras(os), com destaque para o poeta, contista e “agitador” cultural Paulo Colina; às 15h, o lançamento de “Empreendedorismo Feminino: olhar estratégico sem romantismo”, o primeiro livro de Monique Evelle, empreendedora especializada em negócios sociais, e que traz aprendizados com base em relatos pessoais, levando a? reflexa?o sobre o que e? gerir um nego?cio e como pode ser positivo para todos no entorno. Haverá também o lançamento do livro “Nós: 20 Poemas e Uma Oferenda”, de Neide Almeida, seguido da roda de conversa “Literatura à flor da pele: ancestralidade, inquietações e experimentações poéticas”, às 19h30.
Por fim, no dia 7, às 15h, o acontecerá a atividade “Literatura em Cores”, organizada pelo Coletivo Acuenda, na qual haverá intervenções de literatura, poesia, show performático, oficina de rima e bate-papo sobre as obras apresentadas e as suas respectivas diretrizes.