Foto: Fliaraxá – Fernando Rabelo Escritor de literatura para crianças e jovens, pesquisador e conferencista sobre Literatura, Educação e Psicologia do Desenvolvimento, Pedro Bandeira assumirá o posto que por dois anos pertenceu ao pai da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa. Em entrevista, Bandeira fala sobre sua carreira como escritor, leitura no Brasil e sobre a importância do Prêmio IPL na construção de um país de leitores. Veja o que ele disse: Você tem um trabalho de anos na difusão do Livro e da Leitura. Como tem observado as mudanças de hábitos de leitura do brasileiro ao longo desses anos? Temos evoluído? Sim, mais do que certamente temos evoluído. Desde as últimas décadas do século passado, com a recomendação de que a Literatura infantil e juvenil fosse adotada nas escolas, aos poucos uma legião de novos leitores foi sendo conquistada e hoje já há milhões de adultos que se tornaram leitores, já são profissionais em diferentes áreas e já formaram famílias onde seus filhos são apresentados à ficção por seus familiares desde o nascimento e não somente pelas professoras depois de entrarem na escola. A formação da conquista do hábito da leitura por todos os brasileiros é um processo lento, uma mudança de hábito cultural que obrigatoriamente leva tempo. Só que, felizmente, este é um caminho sem retorno. Em caso negativo, o que mais pode ser feito? Sempre defendi que “Educação” não é uma obrigação da escola, é uma obrigação da família. Os países desenvolvidos conquistaram a liderança da economia e da cultura do mundo porque há séculos vêm criando o hábito da leitura em sua população. Nestes, não existe a tal “adoção escolar” de Literatura; a escola somente se obriga a completar aquilo que a família não tem conhecimento para fazer, como ensinar as ciências e a matemáticas às crianças, enquanto o alimento da sensibilidade e das emoções das crianças já vem encaminhado por suas próprias famílias. No Brasil, porém, como estamos num processo de rearranjo cultural, além do esforço das professoras nas escolas, necessitamos de projetos arrojados e inovadores na criação deste hábito de leitura desde tenra idade. Ao longo dos meus quase 40 anos como autor, tenho tomado conhecimento, testemunhado e às vezes ficado boquiaberto com alguns programas inovadores e muito criativos que estão nos ajudando nesse processo, a meu ver, o mais importante para resolver todos os outros problemas de nosso País, a saber, a conquista do conhecimento através da leitura. Por isso apoio com tanto fervor a iniciativa do Instituto Pró-Livro ao premiar, e portanto a divulgar e ressaltar as melhores iniciativas criadas por tantos brasileiros que abraçaram a necessidade de mudar o Brasil, produzindo novos e melhores leitores. O avanço da tecnologia impactou nos hábitos de leitura dos brasileiros? Esta pergunta responde a si mesma quando vemos que o Brasil sempre foi um país atrasado por estar afastado do hábito da leitura. Isso desde sempre, muito antes de qualquer avanço tecnológico que porventura pudesse vir a rivalizar-se com o hábito de ler. O Brasil sempre foi analfabeto e semialfabetizado ao longo de nossos séculos. Agora, felizmente, mesmo convivendo com o avanço da ciência e da tecnologia, nunca tivemos tantos leitores. Vejam que nos países líderes em tecnologia o hábito da leitura só faz crescer. Não sejamos reacionários. Não tentemos culpar a tecnologia por nossos erros históricos. Só com os pés no chão e com o diagnóstico real de nossos problemas poderemos progredir. E ressaltar os projetos inovadores nesse esforço pela conquista da leitura é um passo gigantesco nesse diagnóstico e nessa terapia cultural. Qual o futuro do livro, na sua visão? Durante toda a existência da espécie humana sobre a terra, o livro continuará tão aberto na frente de nossos olhos quanto a alface em nossas saladas. O que achou da iniciativa do Instituto Pró-Livro de criar uma plataforma para reunir as iniciativas de leitura ao redor do país? E então premiar as melhores iniciativas? O Brasil é muito grande e tantas experiências primorosas desenvolvidas por tanta gente criativa e patriota espalhada por nossos cantos correm o risco de permanecerem isoladas e ilhadas em seu nascedouro. Por isso, iniciativas como essa premiação são indispensáveis. Todos os batalhadores dessa guerra tão necessária precisam ser conhecidos, para que suas ideias possam ser copiadas e repetidas. O que achou do convite para ser o novo patrono do Prêmio? Sempre fiz parte dessa luta em prol da leitura. Minha vida sempre foi dedicada ao livro. Portanto, este convite veio ao encontro do meu trabalho, não só como autor, mas também como divulgar do saudável hábito da leitura. Sempre fui um soldado raso, e passar dois anos como general da banda da luta pela leitura dos brasileiros só pode me orgulhar. Como patrono qual a sua principal mensagem para os candidatos ao prêmio? E, para os brasileiros (leitores e não leitores)? Por favor, inscreva seu projeto no Prêmio Retratos da Leitura. O Brasil precisa da sua criatividade, precisa conhecer sua iniciativa para municiar nossa população rumo ao progresso. Os bons resultados obtidos pela sua imaginação precisam espalhar-se por todo o nosso país e podem ajudar a mudar nosso destino. Poderia listar algumas razões pelas quais é importante ler? Você, meu querido conterrâneo, precisa conquistar a compreensão leitora, porque todo o conhecimento humano, acumulado por séculos, está escrito, quer seja nos livros, nas telas ou até nas nuvens, mas está escrito. O único caminho para o futuro é o domínio da leitura. Do outro lado, só resta o abismo. Uma das perguntas na última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil foi: – Quem mais o influenciou a ler? Quem foi no seu caso? Poderia contar um pouco de sua história? Acho que me tornei um apaixonado pela ficção desde o colo da minha mãe, que me fazia adormecer ouvindo contos de fadas. Para mim, até hoje a leitura traz o calorzinho e a fofura de colo de mãe.