Ao longo de dez anos de atividades, a biblioteca firma-se como um dos únicos espaços de formação de leitores e disseminação de práticas literárias na região Por Leonardo de Sá Parelheiros, extremo sul da capital paulista, é uma região contraditória: os baixos índices de desenvolvimento socioeconômico contrastam com o reconhecimento da área como forte pólo de ecoturismo e preservação ambiental. Nesta região localiza-se o Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário Queiróz Filho, o IBEAC, responsável por promover iniciativas de educação e direitos humanos nas redondezas. Em uma das formações promovidas pelo instituto, surge, por parte dos 60 jovens participantes da atividade, a demanda de que houvesse um equipamento cultural na região, capaz de centralizar atividades criativas e disseminar práticas artísticas. A partir de experiências prévias já realizadas com jovens para a criação de bibliotecas comunitárias em outros territórios, o IBEAC propõe então a criação de um espaço nestes moldes para alimentar Parelheiros com uma biblioteca. Surge, então, em 2009, a Caminhos da Leitura, que mais tarde, em 2014, se tornaria Ponto de Cultura. Em quase 10 anos de atividades, a Caminhos da Leitura tem se tornado importante pólo de atividades culturais no distrito, promovendo encontros e atividades voltadas ao tratamento de temáticas coerentes com a realidade social em que se encontra a população de Parelheiros. Temas como os direitos das mulheres, o enfrentamento contra a violência doméstica, o empreendedorismo social comunitário, alimentação saudável e turismo de base surgem como algumas das pautas que moveram os afetos e as atividades promovidas. Ao redor dessas iniciativas da Caminhos da Leitura, forma-se o grupo autônomo Escritureiros, composto por jovens formados em mediação de leitura, crítica literária, direitos humanos e escrita criativa, cuja atuação até então se dava rente às atividades da biblioteca. A medida em que se tornam referências locais, passam também a expandir suas atividades para escolas, creches, espaços de coletivos culturais e atuam em parceria com outras organizações como a Rede LiteraSampa e a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias. “Há um posicionamento político e conceitual do projeto muito consistente em relação à garantia da literatura como direito humano e como possibilidade de contribuir com a melhoria das condições locais”, comenta Sandra Medrano, membro da comissão avaliadora do Prêmio IPL. Disseminar o direito humano à leitura entre os moradores da região, que compreende os bairros de Barragem, Colônia, Nova América e Vargem Grande, tem sido de fato o principal motor das ações empreendidas pela Caminhos da Leitura, cujo trabalho proporciona cada vez mais aos moradores de Parelheiros o acesso irrestrito à literatura e aos bens culturais dos quais todo cidadão deveria ter direito a dispor, além de contribuir na formação de jovens autônomos e multiplicadores de iniciativas agregadoras neste sentido.