Anna Helena Altenfelder, do Cenpec, e Tereza Perez, da Cedac, discutem o papel dos educadores e a importância de políticas públicas que garantam a alfabetização na idade certa, bem como o desenvolvimento de práticas de leitura das crianças brasileiras O painel de discussões organizado pelo Instituto Pró-Livro sobre os desafios para garantir o direito à literatura recebeu Anna Helena Altenfelder, do Cenpec, que iniciou sua fala abordando o desafio de garantir a aprendizagem dos alunos brasileiros e salientando que o Brasil possui excelentes profissionais que atuam na escolas públicas, no entanto, no coletivo, o país ainda não está conseguindo fazer frente ao desafio de ensinar todos os alunos e alunas, nem de alfabetizá-los. Assim como destacou Ana Lúcia Lima durante a apresentação do Inaf 2018, Anna Helena chamou a atenção para o fato de o analfabetismo no Brasil não ser mais só um problema de acesso à escola, mas sim de qualidade do ensino oferecido, já que o acesso às instituições de ensino cresceu, no entanto, junto com ele, observou-se um novo fenômeno no país: alunos chegando ao ensino superior com habilidades rudimentares de escrita e de leitura (4% do total). Ensino público brasileiro e formação de professores A partir da constatação, Anna iniciou uma reflexão sobre o que está acontecendo com a escolas brasileiras. Ela destacou alguns pontos importantes, que levam em consideração a mudança do perfil dos alunos das escolas públicas nos últimos 60 anos. “Ao incluir todos na escola, continuamos a pensar as práticas pedagógicas da mesma forma que pensávamos quando a escola era para poucos, quando havia uma heterogeneidade de alunos, ou seja, eles vinham de diferentes origens sociais”, diz. “Filhos de analfabetos e filhos de pais letrados estudavam juntos. Sabemos que efeito de pares é fundamental para o processo de ensino e aprendizagem e essa diferença de níveis era importante para o processo de alfabetização”. Segundo Anna, atualmente, os alunos mais abastados migraram para escolas particulares e as escolas públicas passaram a ter de lidar com a homogeneização das clientelas, ou seja, com uma maioria de alunos com pouco acesso à cultura letrada da escola. Esse cenário, segundo Anna, exige uma mudança de trabalho pedagógico, de planejamento e de mediação que não é trivial. Na opinião dela, até mesmo para os professores ainda há uma grande confusão entre os conceitos de alfabetização (apropriação do código) e letramento (usos e funções sociais da escrita). Anna ressaltou que o letramento é uma condição da alfabetização, ou seja, é preciso ensinar as práticas de leitura e escrita para os alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para ilustrar a situação do Brasil, ela citou os resultados da ANA, avaliação feita com os alunos de escolas públicas ao final do terceiro ano, que apontou que apenas 12% dos alunos possuem o nível de proficiência adequado. “Passado o terceiro ano, os professores não estão preparados para alfabetizar e a chance que essas crianças têm de passar para as outras etapas sem serem alfabetizadas é grande”. “Por isso, é papel da escola trabalhar a questão do letramento, não esperar que as crianças tragam essa experiência de casa, porque isso não acontece com alunos que vêm de famílias não letradas”, conclui. Educação no Brasil e BNCC Tereza Perez, da Cedac, abriu sua participação tratando das melhoras significativas do Inaf 2018, mas alertou para a lentidão do avanço do alfabetismo no Brasil. Ela atribuiu parte desse resultado à banalização do tratamento dado ao complexo processo que é a alfabetização. E ressaltou a necessidade de investimentos na formação dos educadores. Para explicar as origens do problema do alfabetismo deficiente de alunos que saem da escola sem alcançar a proficiência, Tereza fez uma breve explicação sobre a história da educação brasileira e sobre a influência direta do aumento da população na queda da qualidade das escolas. “Nos anos 60 houve um boom demográfico no país, que resultou em uma contratação de um contingente grande de professores, muitos deles com formação inadequada e que não receberam investimentos para serem aperfeiçoados”, diz. “Só nos anos 90 há um movimento para a construção de uma rede nacional de formação de professores, que foi desmobilizada e retomada apenas em 2012, por isso, ainda temos uma demanda muito grande de uma política muito bem estruturada”. Em seguida, Tereza fez uma rápida explanação sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), considerada por ela como uma tentativa de equalizar a educação no Brasil e de adequar os esforços a cada região. O documento se baseia em competências que precisam ser dominadas pelos alunos, por meio de habilidades, que somadas, são mais de mil, no decorrer da BNCC. E será papel do professor articular tais habilidades para garantir as aprendizagens. “Na Base, as competências estão descritas como direitos de aprendizagem, por isso, devemos, como educadores, exigir do poder público que esses direitos sejam garantidos. O desafio que fica para nós é pensarmos como fazer isso, já que o documento abriu uma grande oportunidade de iniciar essa busca”, diz. Para conhecer os destaques da participação do IPL, clique aqui, aqui e aqui.