No dia 6 de agosto, o Instituto Pró-Livro promoveu uma importante discussão sobre a garantia do direito à leitura no Salão das Ideias da 25a Bienal Internacional do Livro de São Paulo O painel “Desafios para garantir o direito à leitura” iniciou com a participação de representantes das organizações apoiadoras da última edição da pesquisa Inaf – Indicador de Alfabetismo Funcional – 2018: o Itaú Social, representado na figura de Angela Dannemann, o Instituto C&A, por Patrícia Lacerda e Rosalina Soares, da Fundação Roberto Marinho. O Inaf é uma pesquisa idealizada em parceria entre o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa e aplicada pelo IBOPE Inteligência com o objetivo de mensurar o nível de alfabetismo da população brasileira entre 15 e 64 anos, avaliando suas habilidades e práticas de leitura, de escrita e de matemática aplicadas ao cotidiano. IPL na Bienal: apresentação dos resultados do Inaf 2018 Em seguida, a coordenadora do Inaf, Ana Lucia Lima, apresentou dados do Indicador de Analfabetismo Funcional de 2018. De acordo com Ana, a razão de ser do indicador é acompanhar o que acontece com os brasileiros depois que eles saem da escola, já que temos uma série de instrumentos e avaliações que se preocupam em medir o desempenho das crianças no percurso de sua vida escolar. Para o Inaf 2018 foram entrevistadas 2000 pessoas, entre 15 e 64 anos. O instrumento mede, por meio de entrevistas e testes, a compreensão, o uso e a reflexão que as pessoas são capazes de fazer a partir das informações que recebem, com o intuito de ampliar conhecimentos e participar ativamente da sociedade. Para isso, são levadas em consideração as capacidades de letramento (ler, escrever e interpretar textos) e de numeramento (interpretar gráficos, tabelas, ler escalas etc). Alfabetização x alfabetismo Durante sua fala, Ana destacou a necessidade da diferenciação entre os conceitos de alfabetização – reconhecer letras, algoritmos, fazer uma leitura de palavras soltas; e de alfabetismo – que representa a ideia de ser capaz de localizar, integrar, elaborar e avaliar informações. A compreensão desses conceitos ajudam a entender porque o Inaf e o número de analfabetos considerados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística são tão diferentes. “Precisamos tratar do analfabetismo funcional real, que ainda atinge 29% da população brasileira” diz Ana. “É verdade que reduzimos esse número em 10% nos últimos anos, no entanto, não avançamos se olharmos para os brasileiros que são alfabetizados e proficientes”. O que dizem os números O que o Inaf 2018 mostra é que a escolaridade do brasileiro cresceu, no entanto, os índices de alfabetismo não cresceram proporcionalmente. Segundo o estudo, 32% da população que está no ensino médio possui um nível de alfabetismo rudimentar. Esse número sobe para 42% se forem considerados os que estão no Ensino e cai para alarmantes 25% de alfabetismo elementar no ensino superior. O papel da leitura e da literatura O Inaf 2018 mostra também que escolaridade e hábitos de leitura estão diretamente relacionados. E que a principal diferença entre os níveis de alfabetismo está na variedade de gêneros e suportes com os quais esses leitores entram em contato ou estão expostos. Enquanto os alfabetizados elementares e os consolidados leem em proporções similares livros de literatura por vontade própria (30% e 37%, respectivamente), quando o foco é a leitura de livros técnicos e formação profissional, a diferença fica em 16% (25% e 41%, respectivamente). O Inaf 2018 chama a atenção para algumas questões que precisam entrar em pauta nas discussões sobre os rumos da educação no Brasil, por exemplo: como resolver a educação dos adultos? O que as escolas e os formadores de professores devem fazer com esses dados? Como acelerar o processo de melhora dos níveis de alfabetismo da população brasileira? Como fazer as escolas não produzirem mais analfabetos funcionais após 12 anos de estudo? Diálogos entre Inaf 2018 e Retratos da Leitura: estamos construindo um país de leitores? Após a apresentação do Inaf 2018, Zoara Failla, do Instituto Pró-Livro comentou alguns dados da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, maior levantamento sobre o comportamento leitor realizado no Brasil (2015). Zoara apresentou o perfil e o comportamento leitor entre 5 e 17 anos e o perfil leitor dos professores, que não são estudados pelo INAF, para ilustrar os desafios na construção de um pais leitor: o que leem e as suas motivações e dificuldades mostram que pouco estamos avançando. De acordo com Zoara, o percentual dos que não leem por dificuldades de compreensão corrobora com os números de analfabetos funcionais do Inaf. Ao ser questionada por Ana Lucia Lima sobre os caminhos que estamos trilhando, Zoara chamou a atenção para o cenário difícil que o Brasil enfrenta: “Não estamos conseguindo formar leitores críticos e preparados para ter as competências que a vida social ou profissional exigem. Precisamos investir mais na formação dos professores, ter um olhar diferenciado para as bibliotecas, integrando-as aos currículos das escolas e, ao mesmo tempo, envolver as famílias para que despertem o hábito nas crianças”.