Foto: Pritty Reis Minha história se inicia com leitura de revistas e enciclopédias (isso acusa a idade)! Meu pai era argentino e como bom argentino era ávido por informação. Vivíamos em São Carlos e ele com receio de não ter acesso à informação, contratou um jornaleiro que levava em casa as revistas que meu pai assinava. Me lembro da Revista Manchete e Placar (essa de futebol é claro) e outras. De certa forma minha casa era uma espécie de”biblioteca” porque tínhamos revistas e enciclopédias (Barsa, Trópico e Mundo da Criança) e meus colegas sempre iam fazer suas pesquisas escolares. Fiz escola pública e a biblioteca não era um local muito convidativo, aliás quem bagunçava na sala de aula, acabava sendo punido indo à biblioteca para copiar enciclopédia (pedagógico não?). Além disso a biblioteca tinha o piso com sinteco e para não estragar não podíamos estar muito naquele espaço. Tudo para eu achar um lugar chato e nem pensar no assunto. Minhas leituras restringiam-se às obrigatórios cujos livros minha família comprava, não havia muito incentivo na escola para a leitura. O amor pela literatura aconteceu mais tarde quando encontrei leituras que me emocionaram – Tistu, o menino do dedo verde foi uma delas. Acho que a Biblioteconomia estava em minha vida, mas eu só reconheci isso quando fui trabalhar na USP no Departamento de Arquitetura e Planejamento da Escola de Engenharia de São Carlos momento que auxiliei no Centro de Documentação – CEDOC. Lá conheci os bastidores da Biblio apresentado por uma bibliotecária chamada Zezé. Eu via uma relação bem diferente entre o CEDOC os professores e alunos do que acontecia nos outros espaços da USP. Aquilo me seduziu, ver pessoas, apoiar suas pesquisas, discutir assuntos novos. Eu queria ser pedagoga pois já havia cursado o magistério, mas a Zezé me incentivou dizendo que “eu levava muito jeito para isso”. Escolhi fazer Biblio e fui cada vez mais me interessando pela área. Participei da transição dos grandes computadores (os quais trabalhávamos com terminais “burros”) para os microcomputadores e suas infinitas possibilidades. Muita coisa mudou em termos de acesso à informação, mas as bibliotecas foram e são capazes de se reinventarem . Engana-se quem acredita que as bibliotecas são apenas coleções – bibliotecas são espaços para as pessoas. Portanto, quem escolhe essa profissão tem um espectro grande de atuação pois estamos trabalhando com acesso à informação, abertura de repertórios, formação continuada… É super importante gostar de ler para ser bibliotecário, mas é preciso gostar de gente primeiro. Acredito que bibliotecas transformam vidas, por essa razão são parceiras estratégicas dos governos e sociedade civil para cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Quem escolhe a Biblioteconomia/Ciência da Informação deve entender que as bibliotecas são um direito de todos, portanto, temos que ser militantes dessa causa. Adriana Cybele Ferrari é presidenta da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários. Possui graduação em Escola de Biblioteconomia de São Carlos pela Escola de Biblioteconomia e Documentação da Fundação Educacional de São Carlos (1991). É especialista em Gestão de Sistemas e Serviços de Informação pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Possui MBA em Gestão da Qualidade pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.