A diretora executiva da ONG Recode comenta sobre os objetivos do programa Conecta Biblioteca, realizado no Brasil em parceria com a organização norte-americana Caravan Studios. Até 2020, a iniciativa vai impactar 200 bibliotecas públicas em todas as regiões do país, que terão o desafio de aumentar o número de usuários das bibliotecas, especialmente jovens, e fortalecer seu papel na transformação social das comunidades Como a ONG Recode enxerga o papel do bibliotecário nas comunidades onde a iniciativa está presente? Esse profissional está no centro da proposta de valor do nosso programa. Apostamos em seu papel como protagonista local e agente de transformação, capaz de facilitar a cocriação de uma nova programação para a biblioteca pública em sintonia com as necessidades da comunidade. Para isso, o Conecta Biblioteca oferece apoio e formação presencial e online em temas como pesquisa de comunidade, estratégias de comunicação, gestão participativa e articulação. Juntos, promovemos a sensibilização dos gestores públicos locais para que a biblioteca pública possa exercer sua vocação como espaço pulsante e de diálogo, acesso à cultura e informação. Quais os objetivos do Conecta Biblioteca? Temos três objetivos centrais: fortalecer as habilidades dos profissionais de biblioteca, aumentar o número de usuários desses espaços – especialmente os jovens – e incentivar a sustentabilidade das boas ideias implementadas, entendendo a importância de apoiar políticas públicas do setor. Nosso propósito final é contribuir para o desenvolvimento social dos municípios participantes. De que forma o projeto contribui para a transformação dos jovens em promotores da leitura? O foco do nosso trabalho é incentivar o papel dos jovens como protagonistas e co-gestores do programa na biblioteca, no momento em que passam a colaborar com ações inerentes à implementação de uma nova programação para o espaço, tais como pesquisa da comunidade e elaboração de projetos. A partir dessa atuação, os jovens se tornam lideranças engajadas na comunidade e divulgadores das possibilidades de acesso ao conhecimento e informação reunidas na biblioteca. Isso também inclui a promoção da leitura, a divulgação do acervo, os debates temáticos e as rodas de leitura. Em Juína (MT), por exemplo, o programa impulsionou a criação do BiblioFolia durante o Carnaval, com stands de livros em ambientes customizados para crianças e jovens. A ideia nasceu de uma reunião do comitê de jovens. Quais resultados você destaca da primeira fase do programa? Participam da primeira fase as 92 bibliotecas selecionadas em 24 Estados e DF, sendo a maioria situada em pequenos e médios municípios, onde identificamos baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH-M). Elas começam agora a implementar o protótipo de uma nova programação, desenhada a partir de uma escuta qualificada, que chamamos de pesquisa da comunidade. Em Jundiaí (SP), por exemplo, a biblioteca Professor Nelson Foot já passou a oferecer aos usuários um ciclo de atividades em quatro etapas, composto por oficina, palestra e cursos, com temas como empregabilidade e autoconhecimento. Também vale destacar o envolvimento da comunidade jovem nas bibliotecas participantes. Cerca de 80% delas criaram comitês de jovens que vão a campo para realizar a pesquisa da comunidade. São 550 jovens voluntários que se reúnem periodicamente para esse trabalho e também ajudam a viabilizar parcerias para tirar ideias do papel, assumindo protagonismo e liderança na comunidade. Após o primeiro ano de participação no programa, já é possível acompanhar o resultado prático de maior interesse da população por esses espaços. A biblioteca de Juína (MT) relatou um salto no aumento de usuários: de 700 empréstimos/ano, para 3 mil/ano. A biblioteca de Domingos Martins (ES) registrou um número histórico de usuários em 2017: foram 15.041 pessoas, equivalente à 50% da população do município. Foto da Biblioteca Pública Municipal “Wesley Viana de Moura”: ASCOM/Prefeitura de Redenção (PA).