Fipe apresenta pesquisa sobre mercado digital com profundidade e detalhamento nunca vistos em nenhum mercado editorial
Desde 2014, os dados referentes ao mercado digital no país estiveram integrados à Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, fruto de uma parceria que existe há mais de dez anos entre a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
Na última edição da pesquisa, de ano-base 2016, os números não apareceram. Isso porque, na época da divulgação dos resultados do estudo, a Fipe, a CBL e o SNEL anunciaram que iriam fazer o Censo do Livro Digital, um estudo mais aprofundado sobre a produção e comercialização de livros digitais no País. Os resultados desse censo foram apresentados na manhã desta quarta-feira, em um evento em São Paulo.
O trabalho feito pela Fipe é absolutamente fantástico e, possivelmente, inédito no mundo dada sua profundidade e rigor. O fato de ser um censo, que procura apresentar os números absolutos de um universo, sem extrapolação, e com todas as editoras contatadas é de se tirar o chapéu.
Mas o que se vê olhando para os dados é um pouco assustador. O Censo mostra que, das 794 editoras investigadas, só 294 produzem e comercializam conteúdos digitais. Isso representa apenas 37% do setor. Em números absolutos, o Censo mostra que as editoras pesquisadas publicaram, em 2016, 9.483 novos ISBNs digitais.
O acervo total de e-books no país chegou a 49,622 títulos. E, no ano passado, foram comercializadas 2.751.630 unidades de livros digitais. O faturamento apurado com as vendas desses e-books foi de R$ 42.543.916,96, o que corresponde a 1,09% do mercado editorial brasileiro, excluindo nessa conta as vendas ao setor governamental. Esse índice é surpreendentemente baixo e contraria até as estimativas mais conservadoras. E o mesmo índice nas editoras de obras gerais é de 2,38%.
Chega a ser deprimente. Mas de tudo, o mais desanimador é constatar uma das grandes causas destes números irrisórios que é o fato de que 63% das editoras brasileiras ignoram o formato digital. O catálogo sempre é um limitador relevante do crescimento digital na medida que o consumidor desanima se nunca encontra o que quer ler naquele formato.
Interessante observar que desse faturamento total, R$ 3.619.685,59 foram apurados na venda de conteúdos fracionados (capítulos), que ocorre basicamente em plataformas proprietárias. Outros R$ 4.477.636,16 vieram de plataformas de subscrição e bibliotecas virtuais. Esses formatos se moldam muito bem às editoras de livros Científicos, Técnicos e Profissionais (CTP), segmento que abocanha 35% do faturamento do mercado de livros digitais no país. Olhando só para as editoras de CTP, se vê que cerca de 45% das vendas venham dessas formas alternativas de faturamento.
O estudo analisa a performance dos subsetores do livro e mostra que as editoras de Obras Gerais apuraram R$ R$ 24.971.699,38 (2,38%) com a venda de livros digitais. As casas de CTP faturaram R$ 14.977.763,30 (1,68%) e o terceiro subsetor que mais vendeu livros digitais no país foi o de livros Religiosos, que vendeu R$ 1.325.588,58 (0,25%) em conteúdo digital. O segmento de livros Didáticos faturou R$ 1.268.865,70 (0,09%).
A força e o exemplo das grandes
Metodologicamente, o estudo divide as editoras em quatro categorias, por nível de faturamento. Considerando apenas as que faturaram mais de R$ 50 milhões com livros físicos e mais de R$ 1 milhão com livros digitais, a representatividade do conteúdo digital do subsetor Obras Gerais cresce para 4,51%. Aqui fica importante ressaltar que todas as editoras deste segmento já investem em digital, e isto é um dos fatores deste índice mais alto. Neste sentido, seria muito interessante conhecer a participação digital no faturamento das editoras que já investem em digital. Até porque isto explicitaria o quanto as editoras que ignoram o digital poderiam, em média, estar perdendo.
“O que acho mais importante nessa pesquisa é que, para um editora como a Sextante, que está muito mais parecida com os 4,5% do que os 1,09%, valeu muito a pena. O que a gente pode extrair daqui é que há uma oportunidade”, pontuou Marcos Pereira, que além de presidente do SNEL dirige também a editora citada.
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Fonte: PublishNews