O poeta, agitador cultural e repórter da Globo News Literatura fala sobre jornalismo cultural, a formação de novos leitores e sobre a importância de prêmios como o Retratos da Leitura, que valorizam projetos de mídia que tratam do universo literário Como você definiria o jornalismo cultural hoje e como a GloboNews Literatura se transformou nos últimos anos para se manter vivo? Claufe: Acho que o jornalismo cultural está em meio a uma crise de identidade, marca de um período de mudanças drásticas e bruscas que afeta todo o setor de notícias. Há um refluxo natural nas redações, com perda de espaço para o noticiário político, econômico e policial. Mas pode-se notar uma tendência bem clara, no sentido da redução de espaços para cada matéria, e a busca de uma linguagem mais acessível. O desafio é atrair o público comum, sem desagradar o específico. Estou a falar, obviamente de Literatura. Como nosso programa é semanal, e exibido num canal de notícias, a dinâmica é muito grande. O GloboNews Literatura se mantém vivo acompanhando as tendências, sensível às mudanças do mercado, ao fluxo e refluxo de escolas e estilos e ao surgimento de novos autores, sem descuidar daqueles grandes escritores que se caracterizam por serem os pilares da cultura literária brasileira e universal. As novas mídias contribuem para a formação de leitores de literatura? De que forma? Claufe: De inúmeras formas, até mesmo pela curiosidade de experimentar novas sensações. Mas a literatura será sempre a mesma – uma maneira interessante de contar histórias e preservar memórias, usando palavras escritas, faladas. As novas mídias podem facilitar uma nova porta de entrada a elas, para quem não tem hábito de ler livros ou não se interessa diretamente por leitura. É o que posso dizer sobre o tema, o qual, confesso, não domino a ponto de fazer grandes reflexões. Quais outros veículos você considera que desenvolvem um trabalho consistente de crítica literária e valorização da leitura? Claufe: Os espaços para crítica vêm diminuindo muito, o que é lamentável justamente num momento de grande efervescência literária, com novos e antigos autores publicando todo tipo de livro. Quem perde, com isso, é o leitor, que fica perdido numa miríade de opções, sem referências. O papel de mediador, que a imprensa, mal ou bem, até recentemente desempenhou, vem se perdendo ano a ano. Nesse sentido, temos que valorizar as novas revistas que vão surgindo, virtuais ou não, sobretudo as independentes, ou seja, não vinculadas a interesses de grupos ou indivíduos, que servem apenas à autopromoção. Temos também que valorizar veículos como o Candido e Rascunho, ambos do Paraná, que se mantém graças à qualidade e credibilidade junto a seus leitores. Qual é a importância de Prêmios que valorizam projetos de mídia que tratam do universo literário e da formação de leitores literários? Claufe: Os prêmios são o reconhecimento do mercado à importância de um projeto ou uma ação. Dão visibilidade, abrem portas e revigoram as energias. Premiar projetos de leitura é uma das formas de incentivar a continuidade deles. Quais seriam outras? Claufe: Creio que a criação de uma instituição de fomento a boas iniciativas nessa área seria bem-vinda, mantida por empresas privadas e estatais, desde que desconectados de interesses menores e livres do dirigismo político que marcaram nos últimos anos a nossa relação com as instituições públicas brasileiras.