Indústria do livro fora da zona de conforto
* por Míriam Leitão
Na indústria de livros, todos estão fora da zona de conforto. E isso é ótimo. Editoras, gráficas, livrarias, agentes, distribuidores e autores estão sendo desafiados por uma série de novidades no mercado. Editoras estrangeiras chegaram, o comércio também ficou mais concorrido. Vendas online, livros digitais e serviços de assinatura se estabeleceram no cenário e criaram o cenário para que o mercado de livros mude. Em tempos de Flip, tratei do negócio de livros no meu programa na GloboNews.
O número de livros vendidos no Brasil cresceu 10,36% em 2013, batendo 479,9 milhões de exemplares. O faturamento subiu menos: 7,52%, ao atingir R$ 5,3 bilhões. O preço médio, portanto, caiu.
Sônia Machado Jardim, presidente do Sindicato Nacional das Editoras de Livros (SNEL), conta que as consequências das novidades no mercado editorial vão além do preço. Quem mais deve sofrer são as livrarias, acredita. A chegada de grandes empresas de tecnologia no negócio de vendas aqui no Brasil é um tremendo desafio para os pequenos livreiros. Ela aponta para a necessidade de profissionalizar esse empresário, que carrega no seu próprio negócio a paixão pelos livros.
Leonardo Bastos da Fonseca, pesquisador da Coppead/UFRJ, concorda. O livro digital traz uma dinâmica nova, a “conveniência extrema” de se comprar de qualquer lugar e pagar mais barato pelo produto. É um desafio convencer o consumidor a sair de casa e frequentar a loja, alerta Fonseca, autor do estudo mais recente sobre o mercado de editoras.
Não combina muito com a importância que as livrarias têm hoje, provoquei. Elas são escolhidas para ocupar as lojas âncoras de shoppings, cativam até as crianças. O clima agradável que grandes lojas criaram impulsionam inclusive o consumo. Ali é fácil descobrir uma nova necessidade de leitura.
Os serviços de assinatura, lançados recentemente nos EUA, ainda trazem muitas dúvidas. Por um preço fixo, é possível ler uma quantidade de livros por mês. As grandes editoras ainda não botaram seus catálogos à disposição. Remunerar a editora e os autores pelo exemplar lido é confuso, aponta Sônia. Ela torce para que esse serviço ajude a impulsionar a indústria, e não o contrário.
Mais importante do que a forma de remuneração, destaca Fonseca, é o leque de oportunidades que os novos modelos de negócio, como o Kindle, abrem para toda a indústria.
Outro movimento recente do mercado editorial foi a chegada de editoras internacionais no Brasil. Fonseca vê o movimento como natural, outros países passam por consolidação. Algo natural, acredita, o segmento de editoras e livrarias é muito fragmentado. É possível, com a chegada desses novos participantes, que catálogos internacionais fiquem mais próximos do Brasil. A consolidação não deve atrapalhar a efervescência do mercado editorial brasileiro.
Um exemplo de novidade bem utilizada pelo setor é a tecnologia das redes sociais. Elas aproximam editores, autores e leitores. A troca é muito positiva, acredita Sônia, por permitir que a indústria conheça seus consumidores e também o contrário. Essa relação nunca foi tão próxima e é parte do sucesso de eventos como a Bienal e a Flip. Os autores se tornaram ídolos, nota Sônia, e estão perto dos leitores, os únicos confortáveis com o novo cenário do mercado editorial. Agora, eles podem comprar mais barato os livros que escolheram ver publicados e ainda conhecer os escritores em eventos como o que acontece agora em Paraty.